terça-feira, 3 de agosto de 2010

A polêmica questão do aborto

Há um ditado chinês que diz: "Faz bem pensar mais uma vez, embora concorde; é bom pensar mais uma vez, embora discorde."

O aborto no Brasil não é punido apenas em umas pouquíssimas circunstâncias. No mais, é considerado crime e apenas por parte da mulher e do médico que colaborar com ela. E há milhares de mulheres que fazem aborto todos os meses, botando em risco suas próprias vidas, por N motivos que a lei não abrange.
Uma coisa que me intriga nisso é que os homens que engravidaram a mulher que faz aborto ilegal não são punidos. Ei, ninguém engravida sozinha! E muitas vezes elas fazem aborto e eles têm plena consciência disso e, mais ainda, são os maiores motivadores do aborto. E ficam impunes. É justo? Não! A mulher não pode ser considerada criminosa sozinha em situações assim.
Outro ponto que vale a pena pensar a respeito e que muitos usam como justificativa é o discurso religioso, o papo de que é pecado, que Deus castiga, que é causa negativa ou outro nome que sua religião der a isso. Beleza, respeito isso. Mas, neste caso, o problema é da pessoa com Deus, e não com a justiça! E o livre arbítrio, fica onde? Cabe observar que minha religião não é favorável ao aborto e eu também não estou defendendo o aborto em si, mas a legalização dele para que possamos ter escolhas sem botar em risco a saúde de milhares de mulheres.
A principal questão é a saúde das mulheres e a opção de escolher o que é melhor pra si. E, se analisarmos a fundo, uma criança gerada contra a vontade dos pais vai ser feliz? Acredito que esta criança teria sérios motivos para ser uma pessoa infeliz e até mesmo tornar-se um bandido, uma pessoa de mau caráter, para vingar a falta de amor familiar. E qual a vantagem disso? Já pensou nos custos sociais disso? É muito mais do que o custo de um aborto.
O Estado deveria proteger seus cidadãos, visando a felicidade, boa saúde e condições de educação e trabalho para todos, e não ficar palpitando se pais podem ou não dar palmadas em filhos, se podem ou não abortar, etc.
A questão das palmadas tem uma coisa pior que é a violência psicológica, que, também por razões culturais, muita gente nem nota, acha normal uma mãe humilhar um filho, afinal "mãe pode tudo". Mas este tema eu deixo pra falar em outro texto.
Ainda sobre o aborto, cabe lembrar que nenhum método anticoncepcional é 100% eficaz. Ou seja, qualquer uma está sujeita a entrar nesses 1% em algum momento. E se o momento não é bom, se a pessoa não tem condições financeiras ou psicológicas de cuidar desse filho, faz o que? Joga no lixo, no rio mais próximo ou coisa do tipo, como vemos tantas vezes nos jornais?
Temos de parar de tapar o sol com a peneira e encarar que o aborto é uma realidade em nosso país e não há motivos para mantê-lo na ilegalidade. A lei não tem de reger questões de cunho religioso, até porque vivemos num país onde há várias religiões e cada um pratica a que quiser, ou não pratica nenhuma, conforme sua escolha. A lei tem de proteger seus cidadãos, os que estão vivos e pagam impostos, manter sua saúde, dar-lhes condições de educação e trabalho.

E você, o que pensa sobre isso? Opine. É interessante ouvir opiniões. Até pouco tempo atrás eu tinha essa visão que somos acostumados desde criança, que aborto é errado, que é matar uma vida, etc. Mas tenho pensado nesses argumentos que apresentei neste texto e os acho bastante coerentes. Cada pessoa é responsável por seus atos. Em questões religiosas a lei não tem de se meter, assim como a religião não tem de se meter a dar palpite nas leis. Sem contar que a lei que criminaliza o aborto tem quase 100 anos e não é uma lei de crime contra a vida mas de crime contra a moral. E eu tenho a impressão que você, como eu até dias antes de escrever este texto, não sabia disso.

Reforço que não estou defendendo o aborto, mas o direito de escolha das mulheres e melhores condições de saúde para elas.

Abraço

Vanessa Versiani
Criadora do projeto Belle Farfalle
vanessaversiani@yahoo.com.br

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